O relato a seguir é de Goddess Leonie Allan, mãe escritora e artista australiana, autora do blog The Goddess Guidebook e fundadora do Goddess Circle.
Caminhando Pelas Terras do Parto: Como Nossa Filha Veio Ao Mundo
A hora havia chegado.
Eu ajoelhava sob uma cama de hospital.
Só havia os puxos.
Sentia-me sublime. Forte. Poderosa.
Após
um trabalho que me tirou de mim mesma, onde tudo o que podia fazer era
respirar e continuar assistindo a eternidade por trás de meus olhos... e
isto. De repente, era simples. Era poderoso. O puxo. Não havia dor, só o
puxo.
Aos
olhos de todos os outros, eu era um sentinela sentado. Por todas as dez
horas que precederam aquele momento eu não havia me movido, não havia
falado, não havia sequer aberto meus olhos para ver ou boca para falar.
Eu estava meditando. Eu estava parindo calmamente. Eu era o Buda
Parindo.
Em meu interior, entretanto, outra história estava sendo contada.
Eu
estava caminhando pelas Terras do Parto. Eu era uma xamã. Guerreira. Eu
adentrei profundamente as minhas cavernas e lutei contra os Ursos da
Tribo do Medo. Eu venci. Minha luta foi vitoriosa. Eu a encontrei. Eu
estava retornando para casa. Eu estava trazendo minha filha de volta
comigo.
Entardecia. A luz era amena. Havia somente reflexos dourados de luz.
Eu sentia cabeça, ombros, costas, cotovelos, pernas, abrindo caminho por entre meus quadris.
Pela
primeira vez desde que me aventurei pela Terra do Parto, eu comecei a
emitir som. Um longo, profundo hino, uma canção conhecida apenas pelas
baleias nos profundos oceanos e pela luz da lua. Minha canção do parto.
Pessoas
me rodeavam na Sala Sete. Uma doutora me observava do canto. Nossa
parteira. Outra parteira cujos cabelos selvagens cor de âmbar e olhos me
lembravam Hera. Meu amor ao meu lado. Nossa doula. Minha mentora
espiritual.
Por
todo o mundo, pessoas rezavam. Havia homens da medicina em montanhas.
Xamãs queimavam sálvia. Uma tribo de mulheres e círculos de deusas
aguardavam notícias. Ancestrais e anciãs do mundo do arco-íris estendiam
suas mãos, amor tocando amor, oferecendo um novo espírito ao mundo.
Aquela que vem vindo? Ah, como já é amada. Nós somos protegidos. É uma certeza.
Este momento é tudo o que existe. O momento do puxo.
Pelo
hospital, é uma Noite de Nascimento. Cada quarto da estalagem está
ocupado, cada manjedoura recebendo seu Jesus, cada mulher se tornando a
Santa Maria.
Uma mulher está parindo no quarto ao lado do meu. Nós cantamos nossa música de parto juntas.
Eu canto para ela:
“Você é forte. Você vai conseguir! Você pode! Eu estou aqui. Nós vamos fazer isso. Sim!”
Eu ouço sua música de força, suas próprias palavras sussurradas de volta a mim.
Nos
encontramos às margens da Terra do Parto, nossos filhos nos braços.
Diante de nós, um longo declive escorregadio de volta à Terra dos
Outros, o Mundo Real.
Nos
entreolhamos. Nossas sobrancelhas franzidas, úmidas de suor. Carregamos
manchas de sangue de nossa iniciação. Nossos cabelos desgrenhados e com
razão.
Mas
nossos olhos... Ah, nossos olhos! Estão mais bonitos do que jamais
estiveram. Intensos. Cheios de luz e coragem e bravura além do que se
pode conhecer. Nós reivindicamos os tesouros de nossos corações: nossos
filhos. Ah, e como lutamos por eles! Com todo o amor em nossos corações e
céu que existe em nós. E vencemos!
Nos voltamos ao declive à nossa frente. Rimos uma para a outra e, com nosso grito de guerra de mães... mergulhamos!
Este
é o momento em que ela chega. Em uma respiração, uma onda de energia
quebrando sobre mim, ela escorrega do meu mundo interior, para o mundo
fora de mim.
Ela está aqui!
Ela escorrega para as mãos do meu amor.
Ele a entrega a mim.
Seus olhos arregalados e azuis. Ela deixa escapar um choro.
Ela é quieta, forte, maravilhosa.
Meu próprio Jesus.
Ela está aqui.
Este
foi o momento. O momento em que minha filha foi dada pelas estrelas ao
mundo, e então aos meus braços. O momento em que eu retornei ao mundo,
para nunca mais ser a mesma.
Todos
os momentos depois deste. Os difíceis. Os que se manchavam de lágrimas.
Os exaustivos. Os exultantes. Os de amor pulsante. Os de coração
satisfeito. Os de brilhantes e ofuscantes mudanças. Ampliaram-me os
horizontes. Abriram-me. Fizeram-me menor. Fizeram-me maiorRetirado do blog: Rosa dos Ventres
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