Por Jorge Mello (jorgemel@simplicidade.net)
O parto é seguramente a maior experiência na vida de uma mulher. E é um fato normal, fisiológico. Abordar ecologicamente o parto é restituir o seu caráter de normalidade. Tecnicamente, “parto normal é aquele que tem início espontâneo, baixo risco no início do trabalho de parto, permanecendo assim durante todo o processo, até o nascimento. O bebê nasce espontaneamente, em posição cefálica de vértice (com a cabeça para baixo), entre 37 e 42 semanas completas de gestação. Após o nascimento, mãe e filho em boas condições.” (1)
Em termos estatísticos, entre 70 e 80 por cento de todas as gestantes podem ser consideradas de baixo risco no início do trabalho de parto. É importante ressaltar que a determinação do risco é realizada em um acompanhamento pré-natal adequado. Com isso, constatamos que a humanização do parto não trata-se de uma abordagem “alternativa”, no sentido excludente desse termo. Antes disso, a opção pelo parto ecológico implica em re-aproximar ciência e tradição, habilidade e instinto; trata-se de reunir o trio mãe-filho-pai, friamente afastados por imposições culturais de uma sociedade tecnocêntrica. Assim, “no parto normal, deve existir uma razão válida para interferir no processo natural.”(1)
Parturiente
Na definição de nossos termos, criamos e expressamos uma visão de realidade. É interessante, assim, lembrar que grávida não é paciente, pois não está doente, apenas vai ter um bebê. É portanto uma parturiente. E também não é paciente porque a ela cabe o papel de agente nesse fantástico processo de proporcionar a manifestação de mais uma vida humana.
Preparação
O parto e o nascimento configuram uma crise vital. Por isso, é muito importante que os participantes do processo estejam devidamente preparados.
Primeiro, a preparação física da gestante. Respiração adequada a cada fase do trabalho de parto, atenção à alimentação, práticas físicas regulares e específicas para o período gestacional, são alguns dos fatores a considerar. No aspecto emocional/psíquico, é natural que mudanças gerem dúvidas e até medo. Pode-se dizer que é difícil ter um parto sem desconforto, mas é viável ter um parto sem medo. Para isso, é muito bom contar com informações claras sobre o que está acontecendo e apoio de pessoas experientes. Também é de valor inestimável a possibilidade de compartilhar suas vivências com outras famílias gestantes. E adotar práticas de relaxamento pode ser decisivo na capacidade de lidar bem com as fases de maior exigência, tanto na gestação quanto no parto.
Em uma abordagem inclusiva, ainda considera-se a dimensão transpessoal do processo. Aqui, temos as práticas de visualizações, meditação, e de conexão com o Ser que está por nascer. Ainda no útero, o bebê começa a ser estimulado positivamente pela sua família, sentindo-se aceito e amado.
Todas essas medidas geram um continente amoroso para o bebê, ao par de uma atmosfera segura e saudável para a mãe . E aumentam em muito a possibilidade de uma gestação tranquila e de um parto normal. Os benefícios são facilmente verificáveis.
O Local do Parto
” Em que lugar uma mulher deve dar à luz? Pode-se afirmar com segurança que uma mulher deve dar à luz num local onde se sinta segura, e no nível mais periférico onde a assistência adequada for viável e segura (F.I.G.O.-1992)”.(1)
Um parto fora do hospital, apesar de ser um acontecimento não muito comum, não é algo assim tão extraordinário. Em um passado não distante, este era o meio mais comum de se vir ao mundo. Por exemplo: na cidade de São Paulo, em 1958 cerca de 55% dos partos foram domiciliares. Em muitos lugares do ainda se nasce assim, onde existem poucos hospitais, ou é muito difícil o acesso a centros terciários de atenção à saúde. Nesses casos, o parto geralmente é realizado por parteiras tradicionais. Na década de 60, veio a modernização!! A tecnologia! A produção em série, que infelizmente também acabou contaminando a saúde. Não que isto em si seja ruim, mas acaba relegando ao descrédito muitos elementos que são benéficos a humanidade. Aliás, o homem moderno sofre dos efeitos deste processo, onde temos um desenvolvimento tecnológico cada vez maior em detrimento da perda da qualidade humana; um homem violento. Mais tecnologia e menos segurança social, menos . Junto com a moda do modernismo, onde o melhor é o que é mais novo, passou-se a nascer nos hospitais. Lá é que é seguro! MODERNISMO. A televisão é o veículo homogeneizador. Um liqüidificador do pensamento da sociedade. Mas será que tudo o que é mostrado às pessoas é verdade? Será que todos estão contentes com estas mudanças? Parece que não! Em todo o mundo, assiste-se a um certo retorno ao verde, ao original, ao natural. Em todos os lugares temos lojas de produtos naturais. A homeopatia se expande em progressão geométrica, pelos seus resultados e não pela propaganda. A acupuntura e outras terapias tradicionais também adquirem cada vez com mais adeptos. Em vários países são proibidos aditivos alimentares artificiais.
O “movimento Leboyer”, na década de 70, desencadeou a luta por um parto mais natural no mundo inteiro. Porque um poeta que lançou ao mundo imagens e conceitos em forma de (não de experimentos “científicos”) provocou uma revolução tão grande? Em muitos países considerados desenvolvidos aumenta o interesse em se dar à luz no próprio domicílio, principalmente nos EUA, Inglaterra, Austrália e França. Na Holanda, hoje cerca de 35% de todos os nascimentos são domiciliares, com uma das menores taxas de mortalidade infantil da Europa. Sem contar o melhor rendimento entre o capital investido na saúde e a melhoria dos resultados perinatais. (2)
Mas por que um parto em ?
A resposta é complexa e os motivos são variados e pessoais. Mas temos visto, entre muitos, que alguns querem desfrutar da atmosfera tranqüila e já bem conhecida do próprio lar, sem luzes ofuscantes, sem cheiros estranhos, tendo ao seu lado somente pessoas que já conheçam e com as quais possuem um laço afetivo. Outros querem a possibilidade de ficar com o bebê após o nascimento o que for possível, podendo tocá-lo, vê-lo, senti-lo, e depois poder dar um morno, prazeroso e demorado. Curtir o nenê que acabou de nascer!. Outros não querem o atendimento massificado dos hospitais, onde serão um número a mais: a paciente do 314, ou o bebê 597. Você sabe como é o atendimento à parturiente num hospital???
Outras mulheres têm medo de hospital, ou entrar nele implica na lembrança de ocorrências passadas desagradáveis suas ou de familiares (abortamentos, cirurgias, acidentes, contaminações hospitalares) ou a perda de pessoas próximas queridas.
Alguns casais podem querer ter um parto dentro d’água, modalidade ainda não possível em hospital no Brasil (ou muito raramente) e preferem ter seu bebê no domicílio. Algumas temem por infeção hospitalar. Outras fazem questão da presença constante do marido, (e por que não participação?) raramente permitido em muitos hospitais.
O pressuposto comum destas motivações é que o parto não é uma doença, salvo em gestações de risco. É um fenômeno fisiológico. De qualquer maneira a decisão final vai ser tomada SOMENTE QUANDO SE ENTRA EM TRABALHO DE PARTO, mesmo com condições propícias de um pré-natal normal. Neste momento se examina a parturiente, se escuta o batimento do coração do nenê durante várias contrações, se avalia as condições da mãe, sua pressão arterial, a dilatação do colo uterino.
É seguro este parto?
Na verdade há um protocolo técnico para ser aplicado no pré-natal no sentido de reconhecer gestação de risco, que possa necessitar de intervenção ou assistência especializada. Ao par disto, a anuência total do marido é condição fundamental. Portanto é necessária a discussão prévia entre o casal e depois complementar com informações médicas, se necessário. É que existe um risco. Como também existe em um parto no hospital. Todo parto é potencialmente um momento de risco. É importante que este seja assumido por TODOS. Ainda não sabemos qual dos dois é o de maior risco, se o hospitalar ou domiciliar, para casos específicos.
Acreditamos que ambos tem suas indicações, portanto o parto em casa não é o melhor, mas é bom para aqueles que o julgam bom. Outros casos vão ter contra-indicação médica para ocorrer em casa, e para esses o parto hospitalar é o mais indicado.
O parto é um fenômeno da esfera sexual, onde afloram elementos do mais profundo inconsciente. Instinto puro. Portanto é preciso não coibi-lo para que este elemento instintivo se manifeste. A palavra chave é LIBERDADE.
Liberdade de expressão, de movimento, de poder deixar-se acontecer. Poder assumir a posição que for mais confortável para ela nos diferentes momentos do parto.
Os primeiros instantes após o nascimento são fundamentais para a criação de uma ligação. Chamada em inglês de “bonding”. Um elo. Laços profundos se estabelecem. Portanto acreditamos que o melhor lugar para um recém-nascido ficar é o colo da sua própria mãe. Outra coisa que deve-se ter em mente é que a decisão REAL do local do parto é quando entrar em trabalho de parto, e, mesmo assim, se houver fatores que determinem um transporte para o hospital, ele será feito a tempo, isto é antes que ocorram complicações. Por isso deve-se ter a mente aberta para o desenrolar não ser como o ideal previsto, pois o determinante das decisões é a segurança do binômio mãe-bebê. Aceitamos a frustração mas não a decepção.
A Equipe deve ser escolhida com carinho. Deve-se conhecer outras pessoas que já tiveram partos com esta equipe, procurar informar-se sobre a prática cotidiana dos profissionais que vão acompanhar a gestação, o trabalho de parto, pós-parto e puerpério. No caso de optarem pela experiência do parto não-hospitalar, primeiramente deve-se imaginar como tudo vai acontecer, onde gostaria de ter seu bebê, e fazer todos os preparativos necessários. Com o apoio da Equipe, definir o seu protocolo de parto, e receber todas as informações que necessitar para sua tranquilidade.
Mas…e a cesariana?
A cesariana é uma ótima cirurgia, que salva muitas mulheres e muitos bebês. Mas é um procedimento cirúrgico, com 4 vezes mais risco para o bebe e 10 vezes mais risco para a mãe. Portanto não deve ser o parto de escolha, sem antes tentar-se um procedimento que é fisiológico na maioria dos casos.
Uma taxa de cesariana idealmente aceitável para a Organização Mundial da Saúde está na faixa de 10-15%. Atualmente os Estados Unidos estão com 24%. O Brasil, em média, passa dos 50%.
Jorge Mello “Terapeuta (Shiatsu, Reflexologia e Reiki). Praticante graduado (2o. Dan) e instrutor de Aikido. Cursos e experiências de vida comunitária na Findhorn Foundation (Escócia) e Schumacher College (Inglaterra). Facilitador do módulo de Saúde do “Treinamento em Ecovilas “Brasil”.
(1) “”Assistência ao Parto Normal “um guia prático” “Unidade de Maternidade Segura “Saúde Reprodutiva e da família “Organização Mundial da Saúde “Genebra, 1996
(2) Trabalhos publicados pelo Dr. Adailton Salvatore Meira “Campinas(SP), 2000
Se interessou pelo assunto? Veja mais nestes links:
- Vídeo Parto Normal / Natural
- Vídeo Parto Cesárea
- Parto do Princípio
- Xô Episio (não deixe de ler, se você quer um parto normal)
- Amigas do Parto
- Parto Humanizado
- A obstetrícia humanista
- Materna Japão
- Materna SP
ENTREVISTA COM MICHAEL ODENT
Fonte: Psiquiatria Sem Fronteiras
oi querida estou aqui para te convidar a participar de um sorteio que estamos realizando lá no Mundinho do Bebê espero que goste do convite. Super abraço!
ResponderExcluirhttp://mundinhodobebe.blogspot.com/